PARA QUÊ POESIA?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Mãos Vazias






E então os nossos sonhos
Escorreram pelas nossas mãos
vazias.


Nossos sentimentos
fundiram-se no raciocínio
lógico.

Entregamo-nos, aos poucos,
a uns poucos preconceitos
cômodos.

Perdemos a identidade
numa escala de produção
anônima


e a nossa rebeldia
incorporou-se ao apelo
público

tornando-nos apenas parte
de um cenário
cômico...



...mais uma vez.

Maria Inês

Publicada em Antologia Poética.Scortecci Editora;São Paulo:Bienal do Livro/2006.




quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Luiza

Luz,
manhã clara.
Quando chegou
iluminou
nossas vidas
com o encanto
do amanhecer,
nas veredas floridas.
Menina e mulher,
por onde passar
e onde estiver,
sua graça será
ser sempre
luz.


Maria Inês/2002

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Acervo Obsoleto





Às vezes me ponho a pensar

nesses jovens que nada sabem

daquilo que nós sabemos;

dos ideais partidos,

os muitos sonhos vividos

e de outros que já esquecemos.


Dos dogmas registrados

nos livros empoeirados

em estantes esquecidas.

Nada sabem e, no entanto,

no brilho do olhar tem o encanto

diante o espetáculo da vida.


Enquanto nós, ditadores

das tantas regras e normas,

frustrados em nossos sonhos

cansados dos dissabores

seguimos obstinados

em nossos velhos conceitos

que hoje é apenas parte

de um acervo obsoleto.


Maria Inês/2005

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Anúncios de Neón



Nunca seremos um só!
Por mais que nos abracemos,
por muito que desejamos,
apesar de tudo que fomos,
hoje somos apenas dois

.
solitários seres de nós mesmos
a caminhar a sós,
nos lugares em que passamos
e onde deixamos ficar
um pouco de nós.
.
Vestígios a nos lembrar,
entre imagens esquecidas
feito formas distorcidas
a exibir nossas feridas,
numa feira de exposições.
.
Nas vitrines embaçadas
da cidade adormecida,
entre sujas calçadas
ou luminosas fachadas,
dos anúncios de Néon.
.
Entre muros (de) marcados
e o asfalto molhado
da Avenida Central.
Como sombras na cidade,
anônima identidade
de um espetáculo inesquecível
do teatro Municipal.

Varal Diverso



Pudesse eu descrever
nas tardes mornas de outono,
por entre as sombras miúdas
destas folhagens sem flor,

cada rosto entristecido
de todo gesto vivido
que nas praças esquecidas
descansam de seu labor,

então descreveria
como um varal diverso,
em diferente poesia
desfiada em cada verso
no anverso de cada dor.

o que decerto mudaria,
a alegria ausente
da rotina cotidiana,
triste paisagem urbana,
periferia sem cor.


Maria Inês