PARA QUÊ POESIA?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Anúncios de Neon




Nunca seremos um só!
Por mais que nos abracemos,
por muito que desejamos,
apesar de tudo que fomos,

sabemos hoje
que somossempre seremos dois
solitários seres de nós mesmos
a caminhar sós,
nos lugares em que passamos
e onde deixamos ficar
um pouco de nós.

Vestígios a nos lembrar
das imagens esquecidas
feito formas distorcidas
a exibir nossas feridas,
numa feira de exposições.

Nas vitrines embaçadas
da cidade adormecida,
entre sujas calçadas
e luminosas fachadas
dos anúncios de Neon.

Entre muros (de) marcados
e o asfalto molhado
da Avenida Central.

Como sombras na cidade,
anônima identidade
de um espetáculo inesquecível
do teatro Municipal.



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Aos Nossos Filhos



E quando eles chegarem
e nos cobrarem os feitos,
que diremos?

Que ficamos perdidos
pelos caminhos vazios
das teorias, tantas.

Procurando atalhos,
esperando a hora,
infinita espera, quantas?

E quando eles chegarem
e nos cobrarem os feitos,
que diremos?

Se, tecendo a vida
nas artimanhas dos sonhos,
hoje somos

apenas uns poucos
loucos sonhadores,
(rara consciência!),

se, na espera tola
fracassada de um tempo,
já cansados,

perdemos, a muito,
o espetáculo todo
de nossa breve existência?

Maria Inês/1982

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Menino de Rua




Menino da rua
.
carente de afeto.

Seu teto, este céu,

que as sombras da noite

coloriu de lilás.



Sua cama, a calçada

ou o vão do metrô.

Abrigo esquecido

de um sonho perdido,

há tempos atrás.


Seu futuro, abandono;

tesouro escondido,

um rosto embrutecido

no amanhecer.


Seu olhar; ousadia

que persiste e denuncia

a miséria que insiste

em residir, ainda,

em nosso ser.


Maria Inês/1994