PARA QUÊ POESIA?
terça-feira, 26 de junho de 2012
Fios de Luz
Mais uma vez
a noite cobriu de cinzas
meu abandono.
As lembranças são fios de luz
que passeiam em tua ausência
escrevendo um poema antigo
nas páginas de meu sono.
Na solidão de minh'alma vazia,
meu corpo pede o teu.
Agora é preciso reinventar
uma nova forma de existir,
sem tua presença.
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Luiza
Concretude
Se os moradores da cidade
entendessem a poesia como tal,
então, nas teias dos sonhos
a edificariam,
em concretude real.
domingo, 10 de junho de 2012
Poema sem Rima
Fiz um poema sem rima, sem encanto.
Deixei num canto, ao pó da estrada virgem.
Em meu protesto cantei a vida.
Mas minha angústia em prosa e verso
colada no anverso do tempo
foi censurada, calada, esquecida.
Então, gritei bem alto aos edifícios.
De meu protesto nasceu a morte
e eu morri, no asfalto da avenida.
Maria Inês Carpi, do livro Varal de Versos Diversos/1994
Postado por Maria Inês às 19:11 0 comentários Links para esta postagem
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sábado, 9 de junho de 2012
Metáfora
Metáfora
Muitas vezes sou mulher
Em outras, eu sou menina.
Às vezes sou metáfora
Outras tantas, metonímia.
Raras vezes, prosa e verso.
Outras, quem diria?
De tantos modos diversos
já fui até poesia!
Tantas vezes fui de paz
Outras tantas, só conflito!
Quem dera, fosse silêncio
no desespero de um grito?
Quantas vezes fui presença
Em outras, me fiz ausente.
Mas só mesmo na distância
É que me fiz mais presente
Mas de todos os modos que eu pude
Conjugar o verbo viver
A forma mais que perfeita
Que traduziu meu ser
Foi a graça e a plenitude
Que Deus pode me conceder.
Cotidiano
Cotidiano
Da janela do apartamento
do décimo terceiro andar
quando a primeira estrela
brilha no entardecer,
eu quase já posso ver
os rastros de luz e cor,
por entre as casas miúdas
de um aglomerado humano,
onde a fumaça acinzentada
do céu da minha cidade
deixou transparecer.
Enquanto o vento agita
as roupas brancas de um varal,
toda esta gente aflita
rotinizada pelo cotidiano
tem sua alegria arrastada
para muito mais além
deste triste cenário urbano.
Pobre gente oprimida
dependente de ninguém!
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Tons de Lilás
Tons de Lilás
Se quiser saber de mim
estando só, ao anoitecer,
basta olhar para o céu
da nossa cidade
e irá me compreender.
Quando tudo estiver escuro
e somente estrela puder ver.
Ou caso a lua insistente,
na janela do apartamento
Impedir-lhe de adormecer,
lembra que em algum lugar
eu estarei em prece,
tentando encontrar respostas,
perguntando à Deus
a razão do nosso viver.
E se acaso lembrar de mim
como a criança que eu era
a correr pelos campos,
entre as flores miúdas
de nosso antigo jardim,
saiba que ainda poderá vê-la,
entre os muitos tons de lilás,
no céu do entardecer.
Ela só foi buscar uma estrela
para brincar novamente,
no azul do amanhecer!
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Espelhos
Espelhos partidos,
amores idos,
lembranças do que não foi.
Os estilhaços ainda,
sob os nossos pés feridos
fazendo lembrar
que é preciso seguir
apesar da dor.
Postado por Maria Inês às 23:12
Paisagem Urbana
Existirá um ser ainda humano,
nesta guerra cotidiana,
ainda assim, talvez
por isso mesmo, humana?
No silêncio prolongado,
nas palavras engasgadas,
no repúdio calado
da violência civil,
ou no suicídio lento
dos bastidores esquecidos,
numa guerra diferente
onde só restam vencidos,
e os seres (apenas seres)
estranhados em si mesmos
deixam traços embrutecidos
registrados em cada muro
da paisagem urbana,
onde a razão humana
aos poucos, se perdeu?
Maria Inês/1993
terça-feira, 5 de junho de 2012
Existência
Se a minha existência fora
como a primavera em flor,
eu, por certo, comporia
a mais bela canção de amor
e, assim como os pássaros
que às nuvens do céu enviam
a alegria que desfiam
de seu cantar encantador
eu também enviaria
aos amantes, com ternura,
uma bem alegre poesia.
Mas só o que tenho na alma
é esta minha desventura
e é só o que posso compor.
Nada ser
Ruas e praças
em contínua construção,
na cidade inacabada
em formas de concreto;
estranhado poder.
As flores de plástico
na loja da esquina
inspira e desanima
quem tenta vencer
a pressa e os passos
da multidão a caminhar
em direção alguma.
rumo ao nada ser.