PARA QUÊ POESIA?

terça-feira, 5 de junho de 2012

Existência











Se a minha existência fora


como a primavera em flor,


eu, por certo, comporia


a mais bela canção de amor






e, assim como os pássaros


que às nuvens do céu enviam


a alegria que desfiam


de seu cantar encantador






eu também enviaria


aos amantes, com ternura,


uma bem alegre poesia.






Mas só o que tenho na alma


é esta minha desventura


e é só o que posso compor.













Nada ser





Ruas e praças


em contínua construção,


na cidade inacabada


em formas de concreto;


estranhado poder.






As flores de plástico


na loja da esquina


inspira e desanima


quem tenta vencer






a pressa e os passos


da multidão a caminhar


em direção alguma.


rumo ao nada ser.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Anúncios de Neon




Nunca seremos um só!
Por mais que nos abracemos,
por muito que desejamos,
apesar de tudo que fomos,

sabemos hoje
que somossempre seremos dois
solitários seres de nós mesmos
a caminhar sós,
nos lugares em que passamos
e onde deixamos ficar
um pouco de nós.

Vestígios a nos lembrar
das imagens esquecidas
feito formas distorcidas
a exibir nossas feridas,
numa feira de exposições.

Nas vitrines embaçadas
da cidade adormecida,
entre sujas calçadas
e luminosas fachadas
dos anúncios de Neon.

Entre muros (de) marcados
e o asfalto molhado
da Avenida Central.

Como sombras na cidade,
anônima identidade
de um espetáculo inesquecível
do teatro Municipal.



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Aos Nossos Filhos



E quando eles chegarem
e nos cobrarem os feitos,
que diremos?

Que ficamos perdidos
pelos caminhos vazios
das teorias, tantas.

Procurando atalhos,
esperando a hora,
infinita espera, quantas?

E quando eles chegarem
e nos cobrarem os feitos,
que diremos?

Se, tecendo a vida
nas artimanhas dos sonhos,
hoje somos

apenas uns poucos
loucos sonhadores,
(rara consciência!),

se, na espera tola
fracassada de um tempo,
já cansados,

perdemos, a muito,
o espetáculo todo
de nossa breve existência?

Maria Inês/1982

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Menino de Rua




Menino da rua
.
carente de afeto.

Seu teto, este céu,

que as sombras da noite

coloriu de lilás.



Sua cama, a calçada

ou o vão do metrô.

Abrigo esquecido

de um sonho perdido,

há tempos atrás.


Seu futuro, abandono;

tesouro escondido,

um rosto embrutecido

no amanhecer.


Seu olhar; ousadia

que persiste e denuncia

a miséria que insiste

em residir, ainda,

em nosso ser.


Maria Inês/1994

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Mãos Vazias






E então os nossos sonhos
Escorreram pelas nossas mãos
vazias.


Nossos sentimentos
fundiram-se no raciocínio
lógico.

Entregamo-nos, aos poucos,
a uns poucos preconceitos
cômodos.

Perdemos a identidade
numa escala de produção
anônima


e a nossa rebeldia
incorporou-se ao apelo
público

tornando-nos apenas parte
de um cenário
cômico...



...mais uma vez.

Maria Inês

Publicada em Antologia Poética.Scortecci Editora;São Paulo:Bienal do Livro/2006.




quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Luiza

Luz,
manhã clara.
Quando chegou
iluminou
nossas vidas
com o encanto
do amanhecer,
nas veredas floridas.
Menina e mulher,
por onde passar
e onde estiver,
sua graça será
ser sempre
luz.


Maria Inês/2002