PARA QUÊ POESIA?

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Espelhos

 


                                    

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Espelhos partidos,

amores idos,

lembranças do que não foi.

Os estilhaços  ainda,

sob os nossos pés feridos

fazendo lembrar

que  é preciso seguir

apesar da dor.

 

Postado por Maria Inês às 23:12

Paisagem Urbana

Sampa 

 

Existirá um ser ainda humano,
nesta guerra cotidiana,
ainda assim, talvez
por isso mesmo, humana?
No silêncio prolongado,
nas palavras engasgadas,
no repúdio calado
da violência civil,
ou no suicídio lento
dos bastidores esquecidos,
numa guerra diferente
onde só restam vencidos,
e os seres (apenas seres)
estranhados em si mesmos
deixam traços embrutecidos
registrados em cada muro
da paisagem urbana,
onde a razão humana
aos poucos, se perdeu?


Maria Inês/1993

terça-feira, 5 de junho de 2012

Existência











Se a minha existência fora


como a primavera em flor,


eu, por certo, comporia


a mais bela canção de amor






e, assim como os pássaros


que às nuvens do céu enviam


a alegria que desfiam


de seu cantar encantador






eu também enviaria


aos amantes, com ternura,


uma bem alegre poesia.






Mas só o que tenho na alma


é esta minha desventura


e é só o que posso compor.













Nada ser





Ruas e praças


em contínua construção,


na cidade inacabada


em formas de concreto;


estranhado poder.






As flores de plástico


na loja da esquina


inspira e desanima


quem tenta vencer






a pressa e os passos


da multidão a caminhar


em direção alguma.


rumo ao nada ser.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Anúncios de Neon




Nunca seremos um só!
Por mais que nos abracemos,
por muito que desejamos,
apesar de tudo que fomos,

sabemos hoje
que somossempre seremos dois
solitários seres de nós mesmos
a caminhar sós,
nos lugares em que passamos
e onde deixamos ficar
um pouco de nós.

Vestígios a nos lembrar
das imagens esquecidas
feito formas distorcidas
a exibir nossas feridas,
numa feira de exposições.

Nas vitrines embaçadas
da cidade adormecida,
entre sujas calçadas
e luminosas fachadas
dos anúncios de Neon.

Entre muros (de) marcados
e o asfalto molhado
da Avenida Central.

Como sombras na cidade,
anônima identidade
de um espetáculo inesquecível
do teatro Municipal.



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Aos Nossos Filhos



E quando eles chegarem
e nos cobrarem os feitos,
que diremos?

Que ficamos perdidos
pelos caminhos vazios
das teorias, tantas.

Procurando atalhos,
esperando a hora,
infinita espera, quantas?

E quando eles chegarem
e nos cobrarem os feitos,
que diremos?

Se, tecendo a vida
nas artimanhas dos sonhos,
hoje somos

apenas uns poucos
loucos sonhadores,
(rara consciência!),

se, na espera tola
fracassada de um tempo,
já cansados,

perdemos, a muito,
o espetáculo todo
de nossa breve existência?

Maria Inês/1982

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Menino de Rua




Menino da rua
.
carente de afeto.

Seu teto, este céu,

que as sombras da noite

coloriu de lilás.



Sua cama, a calçada

ou o vão do metrô.

Abrigo esquecido

de um sonho perdido,

há tempos atrás.


Seu futuro, abandono;

tesouro escondido,

um rosto embrutecido

no amanhecer.


Seu olhar; ousadia

que persiste e denuncia

a miséria que insiste

em residir, ainda,

em nosso ser.


Maria Inês/1994