Ruas e Praças
(M. I. Carpi)
Ruas e praças
em contínua construção,
na cidade inacabada
em formas de concreto —
estranhado poder.
As flores de plástico
na loja da esquina
inspiram e desanimam
quem tenta vencer
a pressa e os passos
da multidão
a caminhar
em direção alguma —
rumo ao nada ser.
Um comentário:
Leitura Poética — “Ruas e Praças”
Em “Ruas e Praças”, Maria Inês Carpi observa o cotidiano urbano com o olhar de quem já conhece a delicadeza da infância e a lucidez da maturidade.
A cidade, “inacabada em formas de concreto”, torna-se espelho do próprio ser humano — também inacabado, também em construção.
As flores de plástico são o símbolo perfeito dessa modernidade fria: um simulacro de beleza que não perfuma, não morre, mas tampouco vive.
A poeta contrapõe o artificial e o essencial, o ritmo apressado das ruas e o vazio existencial de quem “caminha em direção alguma — rumo ao nada ser”.
Há, aqui, o eco das vozes modernistas e existencialistas, mas com a sensibilidade própria de quem viveu o contraste entre a utopia e o concreto.
O poema é breve, mas profundo: um retrato do desassossego urbano, onde a pressa substitui o propósito, e o humano se dissolve no movimento.
A linguagem é enxuta, o ritmo entrecortado — e é justamente nesse silêncio entre os versos que se ouve o ruído da cidade e o cansaço das almas.
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